quarta-feira, 13 de outubro de 2010

New York, I Love You But You're Bringing Me Down

Não consigo esconder meu amor pela dama de mil nomes, mil caras e mil personalidades.
Não posso esconder a paixão por essa mulher de muitos amores.
Não sei negar excitação por essa prostituta suja, barata, limpa e cara.
Para os pioneiros, Nova Amsterdã. Para alguns, a cidade que nunca dorme. Para outros, a Grande Maçã. Para os quadrinhos Gotham e para os ingênuos, a capital do mundo.
Para mim, recanto de almas perdidas, morada de corações partidos, turbilhão de oportunidades, prostíbulo mental e eterna senhora das falsas alegrias.
Te amo, Senhora Liberdade.
Te amo, Senhora Consumismo.
Te amo, Senhora Sabedoria.
Te amo, Senhora Sujeira.
Te amo, Senhora Insônia.
Como te odeio, meu amor.
E estou sozinho, com o mundo ao meu lado, vendo o sol se por na ponte do Brooklyn.
Você sorri pra mim do outro lado.
E estou sozinho, com o mundo ao meu lado, fazendo compras na 5a Avenida.
Você me come e arrota.
Sozinho, durmo abraçado com o mundo no Central Park. Sinto meu sangue pulsar em Times Square. Tomo café no Soho, onde tenho as melhores conversas e me divirto em Greenwich Village, onde jovens derrotaram o mundo um dia.
Com o mundo ao meu lado, vejo os barcos. Vejo, do topo de seu prédio mais alto, seu prédio mais bonito, meu diamante favorito.
Em Wall Street sinto o chão tremer. No Metropolitan, mergulho na fantasia de vidas passadas e na imaginação de mortos.
Percorro suas veias subterrâneas com prazer, sentindo cada um de seus cantos. Os mais limpos e os mais sujos.
Me delicio com cada imperfeição de seu corpo nu.
Sinto sua pele macia. Beijo sua boca molhada. Possuo seu corpo inteiro.
E quando estou com você, tenho certeza de que estou vivo. Tenho certeza de que o mundo é real e as coisas existem.
Você me mostra o mundo tocável e insignificante em que vivemos.
Você me garante que todas as pessoas são iguais e lindamente feias.
Você me dá enorme vontade de viver.
New York, I Love You But You're Bringing Me Down.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Nunca e sempre

Eu não sabia o que pensar, o que dizer. Tinha que falar algo mas não conseguia, estava em transe. Não conseguia desviar meu olhar de seus olhos. Em minha cabeça, as únicas coisas que existiam eram hipóteses sobre seus pensamentos. Puxa, você tinha que ter visto essa cena. Subitamente, ao perceber o tempo perdido, comecei a falar. Não estava dizendo coisa com coisa. Logo iria embora e todas as palavras iriam consigo. O desespero tomou conta de mim, não precisava falar mais nada. Aliás, não deveria ter aberto minha boca em momento algum. Continuei apreciando a cena e imaginando se seus pensamentos coincidiam com os da minha cabeça. Quem sabe? Iria embora e levaria consigo todos os sonhos, todos os desejos, todos os sorrisos.
Você sempre soube, não é? Sorriu, virou-se e andou em direção ao nunca mais. Durante muito tempo, fiquei ali observando até que sumisse no horizonte.
Virei, andei e sorri, pois sabia, tinha certeza de que nada havia sido em vão. Tinha certeza de que assim seria feliz, sempre.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Lista de Bota

Minha amiga Isabella escolheu Apenas um Sonho de Outono como um dos 5 blogs para prosseguir com Lista de Bota. Infelizmente, a maioria dos blogs que sigo já fizeram uma lista de bota, portanto perdoem-me por indicar alguns blogs novamente.

Anyways...Antes de morrer, desejo:

- Escrever, pelo menos, um bom livro.
- Escolher a profissão certa.
- Estudar música mais profundamente.
- Compor, pelo menos, uma música que preste.
- Conseguir, de alguma forma, ajudar pessoas menos favorecidas.
- Resolver um dos problemas do milênio do Instituto Clay.
- Demonstrar que Goldbach estava certo.
- Ganhar um Nobel.
- PhD em Pi. (haha)
- Desvendar os mistérios sexuais do Pq.Halfed(-Q)
- Encontrar uma pessoa que me ame mais do que eu a ame.
- Ah, muitas outras coisas que não vêm a cabeça agora ou que não estou com paciência para escrever...Hum, resumindo, ser feliz né, aliás, a vida é curta demais...

E os 5 blogs que escolho para fazerem uma Lista de Bota são:

http://masoquismomental.blogspot.com/
http://mcaplicada.blogspot.com/
http://fowlbella.blogspot.com/
http://comgolpesdepincel.blogspot.com/
http://fragmentosdenuances.blogspot.com/

Desculpa novamente por repetir blogs =S

domingo, 27 de junho de 2010

Querido garoto de lugar nenhum,

Enfim chegou o inverno. Ríspido e frio, assim como o quarto concerto de Vivaldi, o inverno golpeia nossas mentes, tinge a alma de azul e o assobio dos ventos nos faz adormecer. Garoto de lugar nenhum, o batear dos dentes ecoa todas as escuras manhãs como o Allegro non molto. A tristeza da estação Fá menor traz a introspecção. Sou agora o solista em meio a orquestra.
Às vezes sonho com o passado. Não sei por que, meu coração sempre acelera e perco o controle. Por dentro, estremeço. Talvez seja apenas o frio. Talvez seja apenas minha mente insana. Talvez seja nada.
Garoto, descobri que não vale a pena amar. Aliás, descobri que não existe o amor. Descobri que tudo que os velhos nos dizem é mentira. Descobri que a felicidade está apenas nos filmes. Aqui existe apenas a diversão. A vida não passa de diversão. Diversão que nos livra do sangue. Tudo é apenas uma grande e divertida peça teatral que nos distrai e faz esgotar o tempo. Deixar o tempo escorrer pelo ralo, de olhos vendados, é a saída para estancar. Talvez, garoto, nem exista a vida. Não, não ria de mim. Talvez tudo isso não passe de um sonho de uma pequena criança. Talvez eu não esteja aqui. Talvez você não estaja aí. A dúvida é cruel. Chega de suposições vazias e hipóteses maciças.
Garoto de lugar nenhum, não quero ferir ninguém. Não quero fazer ninguém chorar. Só você entende. Sei que está longe, insisto em escrever. Insisto em dizer que talvez não possa voar, desculpa. Insisto em dizer que aqui será sempre calorosamente invernal, claramente sombrio e lindamente feio. A vida é o maior de todos os paradoxos. Cansei de imaginar.
Garoto, ontem a noite andei quadras e quadras sozinho, sem rumo. A lua era única luz visível. Andei por horas, não havia ninguém nas ruas. Não havia janelas abertas nem luzes acessas. Não havia vozes, só o doce assobio do vento. Quando voltei, dormi profundamente. Flutuei por nuvens brancas. Andei por campos de morangos. Toquei em diamantes no céu. Vi a vida por cebolas de vidro. Voei através do universo. Sorri.

Nada vai mudar meu mundo.
Nada.

domingo, 25 de abril de 2010

Crimson Sky

Andando, tarde da noite, nas ruas frias e sujas me sinto vivo. O vermelho do céu penetra em meus olhos e me leva pra longe, suga meu ser e me expõe ao mundo.
Não posso simplesmente ignorar todo sentimento. Não consigo mais sorrir quando me machuca com indiferença. Não posso esquecer tudo que nunca foi e tudo que nunca será. Sei que a culpa é minha e nada posso fazer. Sei que o mundo é cruel e prejudica o sorriso de nossas vidas diminutas pela insignificância. Lamento se não pode viver nosso Éden de imagens e palavras. Tarde da noite, nas ruas frias e sujas, olho em seus olhos e sem mexer os lábios digo tudo que quer ouvir. E, sob o céu vermelho de sangue, guarde no fundo do alma e seja feliz.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Conspiração

A escuridão inundava minha alma com medo e desespero. Por todos os cantos, procurava, inutilmente, uma saída. Meus pensamentos se enchiam de dúvidas e incertezas. Onde estou? Pensar na solidão me atormentava. Ninguém para dividir os pensamentos. Ninguém para compartilhar o medo. Simplesmente ninguém.
Uma grande explosão e todos se viram. Era como se estivesse completamente só. Os olhares misteriosos e as vozes sem donos me faziam gritar e não emitir nenhum som. Me faziam chorar e não derramar uma lágrima. Me faziam correr para o infinito. Estava só.
Onde estão todos? Eles não existem. Nunca existiram. De repente, em meio aquele corredor escuro e sombrio descobri que tudo em que acreditava era mentira. Descobri que nunca houve ninguém. Descobri que estava encurralado. Estava despido. Estava sozinho. Com medo.
Quebrando o silêncio, passos ecoaram atrás de mim. Sem olhar para trás comecei a andar mais rápido. O intervalo dos passos diminuíram na mesma proporção. Comecei a correr. Corri o mais rápido que podia, ofegante, mas não era o suficiente. Logo minha respiração parecia falhar e os passos pareciam cada vez mais e mais próximos.
Uma parede que bloqueava o caminho me obrigou a parar. Um metal gelado encostou em meu pescoço e não pude olhar para trás.
O cano gelado da arma me pressionava contra a parede enquanto uma risada soava naquele ambiente sombrio.
Tudo não passa de uma grande conspiração.

O som não tardou muito.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Fireflies

Quando morre o otimismo e a vida deixa de ser cor-de-rosa,
fecho os olhos e descubro que tudo é uma grande ilusão de ótica.
Quando me assusto com o mundo,
minha mente universo paralelo se transforma em refúgio,
sorrir com o coração é possível.
Quando dizem que sou louco, concordo e sorrio.
Perdoe-me se fujo da impossibilidade.
Fujo da dor e busco a liberdade.
Perdoe-me se estrago a afinidade.
Fujo da dor e busco a liberdade.
Perdoe-me se a vida é injusta.
Fujo da dor e busco a liberdade.
Perdoe-me se o silêncio é caótico.
Olho e vejo o oceano
Flutuo na água calma
Olha e vê as oliveiras
Fecho os olhos, flutua.
Abro os olhos, desejo voar.
A queda é longa
mas
vaga-lumes me acompanham
até que aprenda voar.

terça-feira, 16 de março de 2010

έμπνευση

....
Eco.
Eco.
Eco.
Eco.
Eco.
....

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Quando tudo fica azul ou Roma às avessas

Sim. Em Roma, todos se perdem. Vênus, grande assassina, é cruel e maldosa. Enquanto não tira todas as gotas de seu sangue, não fica satisfeita. Claro, Roma parece ser linda, maravilhosa e deslumbrante. Nunca se deixe enganar. Roma é traiçoeira e cheia de armadilhas. Vênus está lá, atrás da beleza, esperando para matar todo aqueles que pisarem em Roma. Não, ninguém sai vivo de Roma.

O céu, antes rosado, ganha um tom azul. Ofegante, percorro as estreitas ruas de Roma. A beleza do lugar encanta e enfeitiça. O céu continua azul. A beleza cega, azul vira preto e continuo no escuro. Sinto com as mãos, cabelos compridos, rosto suave, seios volumosos e corpo terno. Abraço e sangro. As unhas de Vênus perfuram a pele. Vermelho tinge o sangue o corpo. Olhos cegos que choram não enxergam o sangue mas sentem a dor. As unhas entranhadas no órgão pulsante levam a Morte. Ou Vida? Há!

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Ofuscação Sentimental

Eu te amo
Secretamente em meu ser
É difícil dizer
O porquê de tal esconder

Talvez o medo
Insista em prevalecer
Escondendo, assim
A verdade que tenho para dizer

por Bella Fowl (http://bellafowl.tk/)


xD

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Urbs et Anǐma

Seis horas da manhã. O sol clareou o céu e todo o cinza que compunha aquele agitado cenário de amor, sexo, alegria, infância, dinheiro, loucura, dor e morte. Não demorou muito para que a orquestra começasse a soar o Allegro metropolitano. Sem maestro, os passos apressados, risos, conversas no celular, britadeiras, buzinas e sirenes seguiam desordenadamente a música no decorrer do tempo.
Uma fita branca impedia que os cabelos loiros da pequena garota balançassem com a brisa suave que soprava a praça. Usava sandálias combinando com a fita e um vestido azul claro com dizeres curiosos. Sua alegria podia ser percebida por qualquer um que visse seus passos acelerados ao som do Presto. Sentou no balanço mas permaneceu parada, segurando sua boneca. A mente de uma criança de cinco anos é um mundo de maravilhas. Sem preocupações, olhava com ingenuidade todas as coisas curiosas ao seu redor. As pombas que comiam restos no chão voaram e fizeram com que seus olhos azuis prestassem atenção em um homem perto da lata de lixo. Era velho como seu avô e tinha uma barba branca como a do Papai Noel, porém mais curta...
Descalço contra sua vontade lutava pra sobreviver. Luta a qual o garantiu uma aparência de velho, sendo que ainda não havia completado nem cinco décadas de idade. Havia perdido sua dignidade assim como havia perdido a memória da imagem de seu próprio rosto. Fruto das falhas do sistema regente, era a prova viva de que a vida é injusta. Uma vez não encontrando nada útil no lixo, caminhou até a esquina. Sentado no chão ao lado do entulho estava em seu patamar apropriado. Sem esperanças, o mendigo observava as pessoas que passavam. Estendeu sua mão em busca de esmola. A jovem porém continuou andando sem nem notar sua presença...
Dezoito anos e uma vida inteira pela frente. Os cabelos castanhos e compridos tampavam os fones de ouvido de seu ipod. Com sua mão esquerda levantou seu ray ban e revelou seus olhos verdes que até então estavam escondidos. Com a outra mão começou a digitar uma mensagem em seu celular. Sinal Verde. Sinal Vermelho. Atravessou a rua e levantou a mão chamando um táxi que a levaria até sua residência. No bairro em que morava só haviam casas transbordadas de luxo. Sua casa tinha um tom rosado e inúmeras pilastras brancas na frente. Sua mãe, a famosa jornalista da televisão estava na cozinha. Separada há dois anos, sua mãe mantinha uma relação amigável com o ex-marido. A jovem chegou e atendeu o pai no telefone. Não, não podia jantar no Chez Pierre com seu pai pois já tinha compromissos para a noite. Conformado, seu pai disse adeus do outro lado...
Dinheiro e uma carreira de sucesso não significavam mais nada. Era um importante empresário porém era infeliz. Há dois anos havia perdido a motivação. A ambição causou perdas e agora não tinha mais nada. Dinheiro não é nada. Seu relógio de pulso marcou oito horas. As ruas a noite se transformavam em grandes labirintos. Sozinho com seu Audi foi em direção do consolo. Dinheiro compra sexo mas não compra amor. Suspiros sem sentimento e olhares sem significado o deprimiam. Estava deprimido. Acendeu o cigarro e começou a fumar na janela. As ruas pareciam se movimentar por causa dos carros. A cidade estava viva. Virou se e entregou as notas amassadas para a mão de unhas vermelhas...
Já estava acostumada e não se importava mais, tinha seu preço. Trocou tudo que tinha por trajes obscenos e cabelos tingidos. Não beijava e não fazia por amor. Era apenas um produto. Ficava sujo e usado. Não se importava mais. Andava de esquina a esquina, na escuridão, sem temer nada. A escuridão era sua casa...
O garoto de jaqueta de couro assobiou para a prostituta que passou rebolando. Riu com seus amigos. Buscava liberdade. O mundo revelou-se cruel e lutava contra isso. Seu cabelo, suas roupas e seu gosto musical expressavam sua insatisfação com a indiferença e aceitação alheia. Estava com seus iguais e portanto estava eufórico. Podia tudo. Queria tudo. Era tudo. A areia escorria pela ampulheta enquanto afundava na escuridão da noite. Ácido e agulhas o livravam do sofrimento terreno. Explorava o amor com gemidos inusitados. Em um mundo de icógnitas, não se importava com X e Y. Dor, mágoas, sofrimento, estava vivo. Seguia a sinfonia até o amanhacer, quando a mente clareava e o azul voltava a predominar no horizonte. Ode a alegria!
O barulho crescente da orquestra acordou o garoto. Deitado no chão duro da praça abriu os olhos negros.
Os cabelos loiros da pequena garota estavam presos por uma fita branca. Usava sandálias combinando com a fita e um vestido azul claro. O garoto começou a sentir gotas caindo sobre seu rosto enquanto observava aquela bela cena. Estava chovendo. A garota de sandálias brancas começou a andar. Seu vestido azul claro balançava com o vento enquanto andava. Andou até desaparecer no horizonte cinzento. Os dizeres em latim no peito da pequena menina porém permaneceram na cabeça do jovem que a observava: Urbs et Anǐma...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Maçãs

Ergueu sua mão no ar e apontou com seu pequeno dedo. Maria-chiquinha. Sardas. Estrabismo leve, porém perceptível. Minha mente madura logo visualizou uma projeção futura contrária a toda Afrodite do século XXI. Dessa vez, foi a minha mão que se ergueu em direção a uma primeira página viva da Vogue de seis anos de idade. A reação do pequeno foi catastrófica. Idade não era a diferença única de nossos olhos. Transpareci um sorriso enquanto minha mente transbordava de risadas. O meio havia me deixado podre. Não podemos voltar no tempo. Nem comprar óculos para enxergar o recheio das maçãs. Viva a mente pura ao meu lado que degustava a maçã por seu sabor. Vermelha ou não...

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Ovelha em busca do matadouro

Mais um dia de saturno chegava ao fim. Abriu os olhos e levantou da cama quente. Os pelos de sua pele lisa arrepiaram instantaneamente com a atmosfera gelada. Fez com que sua última peça de roupa caísse lentamente no frio do chão. Seu corpo era uma chama em meio ao gelo do ártico. Completamente nua, estava livre. Completamente livre, não estava nua. Saiu de seu caixão silenciosamente, deixando para trás todo calor e penetrando na escuridão do número oito. O relógio já indicava cinco horas para o amanhecer. Buscava mais do que sangue. Era uma ovelha em busca do matadouro. Quanto mais percorria pelas ruas sinuosas da noite sombria mais manchava sua lã de sangue. O vermelho em sua boca tinha um gosto suave de liberdade misturado com o sabor de sua própria carne.
Quando o dia clareasse estaria de volta, saciada, afogando no calor. Afinal, ela era apenas uma adolescente.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Férias de Verão

Suas pupilas dilataram instantaneamente. Sua alma logo foi sugada por uma força desconhecida e sua mente começou boiar em águas serenas...

O sol deitando lentamente no horizonte deu ao céu uma bela coloração alaranjada. Sorriu.
Assim que o sol cruzasse o plano do equador celeste estaria concretizado o inicio de uma nova estação. Fechou os olhos. Adeus amores. Adeus risadas. Adeus minha pílula fantástica.
Abriu os olhos e o sol já havia desaparecido. O efeito alucinógeno já havia passado.
De todo êxtase sobrou apenas um frasco. Frasco vazio com um pequeno escrito do lado de fora. Férias de Verão.

Ninguém

Não quero ser são em um mundo louco
Minha alma insana paira em um mar de flores
Minha mente corre nua por um mundo oco
Quando veio a mim, filho de Platão
Nunca traição tratei de encontrar
A cada batida porém sinto a navalha
nadando em um vermelho mar
Logo deixa de boiar e afunda
afunda na profundesa vermelha
Alivia a mente das dores mundanas
Alivia a alma da queda fatal
Olho e tudo digo
Olha e nada escuta
Toco e nada sente
Sente e nada toca
Do topo pulo sem saber voar
Nada falo
Nada escuto
Nada vejo
Nada sinto
Você espero
Ninguem encontro
Não, ninguém pra me segurar.

Mecânica Celeste Aplicada

É um túnel grande e escuro. Geladas de medo, andam até que seus olhos possam captar as ondas emitidas por uma luminosidade longínqua. Seguem, mergulham na imensidão azul e nadam com as estrelas.

Sinto um aperto no peito sempre que penso em todos que já se foram e em todos que ficaram para trás. Meu maior medo é perder as pessoas que amo. Me assusta, ainda mais, ter a certeza de que um dia vou perde-las. Certeza de que ainda vou me magoar. Certeza de que ainda vou sofrer. Certeza de que ainda vou chorar.

Foda-se.

Escuto a nona de Beethoven e tenho a súbita certeza de que a vida é bela. A vida é bela. Assim, escrevo para todos que se foram. Todos que nos deixaram algo. Todos que não deixaram nada. Escrevo em nome de todos os corações quebrados e almas perdidas. Escrevo em nome de todos garotos de Gay Harbour (ou Porto Alegre) que sentem as amarguras da vida. Todos que enfrentam o monóxido de carbono. Todos que amam. Todos que estudam essa fantástica mecânica celeste aplicada.
Clichê ou não, só tenho algo a dizer: Foda-se. A vida é bela.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Caem os corpos

O ano é 1945. O mundo encara a máxima da perversidade e ignorância. Começam a cair os corpos. Novo século, Novo milênio. O fim da inocência foi realmente concretizado? Infelizmente a inocência é, atualmente, um lago finito de águas rasas. Lago que a cada segundo fica mais raso. Somente os pequenos corpos se banham. Cada vez mais baixos. E cada vez mais rápido caem os corpos.
Felizes aqueles pequenos olhos que só vêem beleza, só enxergam paz e sorriem. Felizes aqueles que são poupados de encarar a dura realidade e a enfrentar a sujeira que a vida os reserva. Felizes os banhados. Siga o coelho branco, entre na toca e o resto pergunte a Carrol, pois nem tudo é um sonho. Nem todo final é feliz.
Imagine uma porção de garotinhos brincando em um imenso campo de centeio sem ninguém grande por perto a não ser eu. Fico na beira de um abismo e agarro todos garotinhos que estejam prestes a cair no abismo. Se pudesse fazer a merda da escolha, apanharia todos. Não posso. Caem os corpos.


Ah, claro. Descanse em paz, Salinger.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Sangue de Borboleta

O céu está pálido assim como todas as outras tardes de outono. Na rua, as pessoas passam uma pelas outras ignorando as folhas marrons que repousam nas calçadas. É uma cena magnífica de se ver por essa janela. Esse é com certeza meu café favorito na cidade.Um café médio, por favor. Dois, retruca o cara sentado na minha frente. Amigo de infância. Café é sempre uma ótima desculpa para um final de tarde agradável com alguém. Obrigado. Pode me trazer açúcar? Obrigado.
Olho para ele e escuto sua voz. Por que os morangos são vermelhos? Pode parecer engraçado ou estranho, ou os dois, mas tive um sonho esses dias. Estava deitado na grama. Era um grande campo, estava nu, de olhos fechados sentindo apenas o vento soprar meu cabelo. Não sei se julgo ridículo, estranho ou interessante. De qualquer forma continuo mergulhado em sua voz. E ela continua soando. Abri meus olhos e vi várias borboletas voando. Todas sangrando. Sangue Vermelho. Gotejando pelo gramado. Borboletas não têm sangue. Digo imediatamente em um momento de lucidez. Borboletas têm hemolinfa, nem vermelho é. Novamente sua voz soa e escuto. Eu sei, eu sei. Isso foi apenas um sonho de outono. O sangue vermelho das borboletas caiam no gramado e formavam belos morangos. Logo o gramado ficou todo coberto de morangos. Belo sonho. Deveria fazer poesia de seus sonhos. Meus sonhos são poesias. O céu continua pálido assim como todas as outras tardes de outono. Na rua, as pessoas ainda passam uma pelas outras ignorando as folhas marrons que repousam nas calçadas. Foco meu olhar na janela novamente. Realmente foi um belo sonho de outono. Viro meu rosto e abro minha boca. A poesia é como sangue de borboleta. Ele sorri. Foi apenas um sonho de outono...Apenas um sonho de outono...