sábado, 30 de janeiro de 2010

Caem os corpos

O ano é 1945. O mundo encara a máxima da perversidade e ignorância. Começam a cair os corpos. Novo século, Novo milênio. O fim da inocência foi realmente concretizado? Infelizmente a inocência é, atualmente, um lago finito de águas rasas. Lago que a cada segundo fica mais raso. Somente os pequenos corpos se banham. Cada vez mais baixos. E cada vez mais rápido caem os corpos.
Felizes aqueles pequenos olhos que só vêem beleza, só enxergam paz e sorriem. Felizes aqueles que são poupados de encarar a dura realidade e a enfrentar a sujeira que a vida os reserva. Felizes os banhados. Siga o coelho branco, entre na toca e o resto pergunte a Carrol, pois nem tudo é um sonho. Nem todo final é feliz.
Imagine uma porção de garotinhos brincando em um imenso campo de centeio sem ninguém grande por perto a não ser eu. Fico na beira de um abismo e agarro todos garotinhos que estejam prestes a cair no abismo. Se pudesse fazer a merda da escolha, apanharia todos. Não posso. Caem os corpos.


Ah, claro. Descanse em paz, Salinger.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Sangue de Borboleta

O céu está pálido assim como todas as outras tardes de outono. Na rua, as pessoas passam uma pelas outras ignorando as folhas marrons que repousam nas calçadas. É uma cena magnífica de se ver por essa janela. Esse é com certeza meu café favorito na cidade.Um café médio, por favor. Dois, retruca o cara sentado na minha frente. Amigo de infância. Café é sempre uma ótima desculpa para um final de tarde agradável com alguém. Obrigado. Pode me trazer açúcar? Obrigado.
Olho para ele e escuto sua voz. Por que os morangos são vermelhos? Pode parecer engraçado ou estranho, ou os dois, mas tive um sonho esses dias. Estava deitado na grama. Era um grande campo, estava nu, de olhos fechados sentindo apenas o vento soprar meu cabelo. Não sei se julgo ridículo, estranho ou interessante. De qualquer forma continuo mergulhado em sua voz. E ela continua soando. Abri meus olhos e vi várias borboletas voando. Todas sangrando. Sangue Vermelho. Gotejando pelo gramado. Borboletas não têm sangue. Digo imediatamente em um momento de lucidez. Borboletas têm hemolinfa, nem vermelho é. Novamente sua voz soa e escuto. Eu sei, eu sei. Isso foi apenas um sonho de outono. O sangue vermelho das borboletas caiam no gramado e formavam belos morangos. Logo o gramado ficou todo coberto de morangos. Belo sonho. Deveria fazer poesia de seus sonhos. Meus sonhos são poesias. O céu continua pálido assim como todas as outras tardes de outono. Na rua, as pessoas ainda passam uma pelas outras ignorando as folhas marrons que repousam nas calçadas. Foco meu olhar na janela novamente. Realmente foi um belo sonho de outono. Viro meu rosto e abro minha boca. A poesia é como sangue de borboleta. Ele sorri. Foi apenas um sonho de outono...Apenas um sonho de outono...