segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Quando tudo fica azul ou Roma às avessas

Sim. Em Roma, todos se perdem. Vênus, grande assassina, é cruel e maldosa. Enquanto não tira todas as gotas de seu sangue, não fica satisfeita. Claro, Roma parece ser linda, maravilhosa e deslumbrante. Nunca se deixe enganar. Roma é traiçoeira e cheia de armadilhas. Vênus está lá, atrás da beleza, esperando para matar todo aqueles que pisarem em Roma. Não, ninguém sai vivo de Roma.

O céu, antes rosado, ganha um tom azul. Ofegante, percorro as estreitas ruas de Roma. A beleza do lugar encanta e enfeitiça. O céu continua azul. A beleza cega, azul vira preto e continuo no escuro. Sinto com as mãos, cabelos compridos, rosto suave, seios volumosos e corpo terno. Abraço e sangro. As unhas de Vênus perfuram a pele. Vermelho tinge o sangue o corpo. Olhos cegos que choram não enxergam o sangue mas sentem a dor. As unhas entranhadas no órgão pulsante levam a Morte. Ou Vida? Há!

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Ofuscação Sentimental

Eu te amo
Secretamente em meu ser
É difícil dizer
O porquê de tal esconder

Talvez o medo
Insista em prevalecer
Escondendo, assim
A verdade que tenho para dizer

por Bella Fowl (http://bellafowl.tk/)


xD

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Urbs et Anǐma

Seis horas da manhã. O sol clareou o céu e todo o cinza que compunha aquele agitado cenário de amor, sexo, alegria, infância, dinheiro, loucura, dor e morte. Não demorou muito para que a orquestra começasse a soar o Allegro metropolitano. Sem maestro, os passos apressados, risos, conversas no celular, britadeiras, buzinas e sirenes seguiam desordenadamente a música no decorrer do tempo.
Uma fita branca impedia que os cabelos loiros da pequena garota balançassem com a brisa suave que soprava a praça. Usava sandálias combinando com a fita e um vestido azul claro com dizeres curiosos. Sua alegria podia ser percebida por qualquer um que visse seus passos acelerados ao som do Presto. Sentou no balanço mas permaneceu parada, segurando sua boneca. A mente de uma criança de cinco anos é um mundo de maravilhas. Sem preocupações, olhava com ingenuidade todas as coisas curiosas ao seu redor. As pombas que comiam restos no chão voaram e fizeram com que seus olhos azuis prestassem atenção em um homem perto da lata de lixo. Era velho como seu avô e tinha uma barba branca como a do Papai Noel, porém mais curta...
Descalço contra sua vontade lutava pra sobreviver. Luta a qual o garantiu uma aparência de velho, sendo que ainda não havia completado nem cinco décadas de idade. Havia perdido sua dignidade assim como havia perdido a memória da imagem de seu próprio rosto. Fruto das falhas do sistema regente, era a prova viva de que a vida é injusta. Uma vez não encontrando nada útil no lixo, caminhou até a esquina. Sentado no chão ao lado do entulho estava em seu patamar apropriado. Sem esperanças, o mendigo observava as pessoas que passavam. Estendeu sua mão em busca de esmola. A jovem porém continuou andando sem nem notar sua presença...
Dezoito anos e uma vida inteira pela frente. Os cabelos castanhos e compridos tampavam os fones de ouvido de seu ipod. Com sua mão esquerda levantou seu ray ban e revelou seus olhos verdes que até então estavam escondidos. Com a outra mão começou a digitar uma mensagem em seu celular. Sinal Verde. Sinal Vermelho. Atravessou a rua e levantou a mão chamando um táxi que a levaria até sua residência. No bairro em que morava só haviam casas transbordadas de luxo. Sua casa tinha um tom rosado e inúmeras pilastras brancas na frente. Sua mãe, a famosa jornalista da televisão estava na cozinha. Separada há dois anos, sua mãe mantinha uma relação amigável com o ex-marido. A jovem chegou e atendeu o pai no telefone. Não, não podia jantar no Chez Pierre com seu pai pois já tinha compromissos para a noite. Conformado, seu pai disse adeus do outro lado...
Dinheiro e uma carreira de sucesso não significavam mais nada. Era um importante empresário porém era infeliz. Há dois anos havia perdido a motivação. A ambição causou perdas e agora não tinha mais nada. Dinheiro não é nada. Seu relógio de pulso marcou oito horas. As ruas a noite se transformavam em grandes labirintos. Sozinho com seu Audi foi em direção do consolo. Dinheiro compra sexo mas não compra amor. Suspiros sem sentimento e olhares sem significado o deprimiam. Estava deprimido. Acendeu o cigarro e começou a fumar na janela. As ruas pareciam se movimentar por causa dos carros. A cidade estava viva. Virou se e entregou as notas amassadas para a mão de unhas vermelhas...
Já estava acostumada e não se importava mais, tinha seu preço. Trocou tudo que tinha por trajes obscenos e cabelos tingidos. Não beijava e não fazia por amor. Era apenas um produto. Ficava sujo e usado. Não se importava mais. Andava de esquina a esquina, na escuridão, sem temer nada. A escuridão era sua casa...
O garoto de jaqueta de couro assobiou para a prostituta que passou rebolando. Riu com seus amigos. Buscava liberdade. O mundo revelou-se cruel e lutava contra isso. Seu cabelo, suas roupas e seu gosto musical expressavam sua insatisfação com a indiferença e aceitação alheia. Estava com seus iguais e portanto estava eufórico. Podia tudo. Queria tudo. Era tudo. A areia escorria pela ampulheta enquanto afundava na escuridão da noite. Ácido e agulhas o livravam do sofrimento terreno. Explorava o amor com gemidos inusitados. Em um mundo de icógnitas, não se importava com X e Y. Dor, mágoas, sofrimento, estava vivo. Seguia a sinfonia até o amanhacer, quando a mente clareava e o azul voltava a predominar no horizonte. Ode a alegria!
O barulho crescente da orquestra acordou o garoto. Deitado no chão duro da praça abriu os olhos negros.
Os cabelos loiros da pequena garota estavam presos por uma fita branca. Usava sandálias combinando com a fita e um vestido azul claro. O garoto começou a sentir gotas caindo sobre seu rosto enquanto observava aquela bela cena. Estava chovendo. A garota de sandálias brancas começou a andar. Seu vestido azul claro balançava com o vento enquanto andava. Andou até desaparecer no horizonte cinzento. Os dizeres em latim no peito da pequena menina porém permaneceram na cabeça do jovem que a observava: Urbs et Anǐma...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Maçãs

Ergueu sua mão no ar e apontou com seu pequeno dedo. Maria-chiquinha. Sardas. Estrabismo leve, porém perceptível. Minha mente madura logo visualizou uma projeção futura contrária a toda Afrodite do século XXI. Dessa vez, foi a minha mão que se ergueu em direção a uma primeira página viva da Vogue de seis anos de idade. A reação do pequeno foi catastrófica. Idade não era a diferença única de nossos olhos. Transpareci um sorriso enquanto minha mente transbordava de risadas. O meio havia me deixado podre. Não podemos voltar no tempo. Nem comprar óculos para enxergar o recheio das maçãs. Viva a mente pura ao meu lado que degustava a maçã por seu sabor. Vermelha ou não...

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Ovelha em busca do matadouro

Mais um dia de saturno chegava ao fim. Abriu os olhos e levantou da cama quente. Os pelos de sua pele lisa arrepiaram instantaneamente com a atmosfera gelada. Fez com que sua última peça de roupa caísse lentamente no frio do chão. Seu corpo era uma chama em meio ao gelo do ártico. Completamente nua, estava livre. Completamente livre, não estava nua. Saiu de seu caixão silenciosamente, deixando para trás todo calor e penetrando na escuridão do número oito. O relógio já indicava cinco horas para o amanhecer. Buscava mais do que sangue. Era uma ovelha em busca do matadouro. Quanto mais percorria pelas ruas sinuosas da noite sombria mais manchava sua lã de sangue. O vermelho em sua boca tinha um gosto suave de liberdade misturado com o sabor de sua própria carne.
Quando o dia clareasse estaria de volta, saciada, afogando no calor. Afinal, ela era apenas uma adolescente.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Férias de Verão

Suas pupilas dilataram instantaneamente. Sua alma logo foi sugada por uma força desconhecida e sua mente começou boiar em águas serenas...

O sol deitando lentamente no horizonte deu ao céu uma bela coloração alaranjada. Sorriu.
Assim que o sol cruzasse o plano do equador celeste estaria concretizado o inicio de uma nova estação. Fechou os olhos. Adeus amores. Adeus risadas. Adeus minha pílula fantástica.
Abriu os olhos e o sol já havia desaparecido. O efeito alucinógeno já havia passado.
De todo êxtase sobrou apenas um frasco. Frasco vazio com um pequeno escrito do lado de fora. Férias de Verão.

Ninguém

Não quero ser são em um mundo louco
Minha alma insana paira em um mar de flores
Minha mente corre nua por um mundo oco
Quando veio a mim, filho de Platão
Nunca traição tratei de encontrar
A cada batida porém sinto a navalha
nadando em um vermelho mar
Logo deixa de boiar e afunda
afunda na profundesa vermelha
Alivia a mente das dores mundanas
Alivia a alma da queda fatal
Olho e tudo digo
Olha e nada escuta
Toco e nada sente
Sente e nada toca
Do topo pulo sem saber voar
Nada falo
Nada escuto
Nada vejo
Nada sinto
Você espero
Ninguem encontro
Não, ninguém pra me segurar.

Mecânica Celeste Aplicada

É um túnel grande e escuro. Geladas de medo, andam até que seus olhos possam captar as ondas emitidas por uma luminosidade longínqua. Seguem, mergulham na imensidão azul e nadam com as estrelas.

Sinto um aperto no peito sempre que penso em todos que já se foram e em todos que ficaram para trás. Meu maior medo é perder as pessoas que amo. Me assusta, ainda mais, ter a certeza de que um dia vou perde-las. Certeza de que ainda vou me magoar. Certeza de que ainda vou sofrer. Certeza de que ainda vou chorar.

Foda-se.

Escuto a nona de Beethoven e tenho a súbita certeza de que a vida é bela. A vida é bela. Assim, escrevo para todos que se foram. Todos que nos deixaram algo. Todos que não deixaram nada. Escrevo em nome de todos os corações quebrados e almas perdidas. Escrevo em nome de todos garotos de Gay Harbour (ou Porto Alegre) que sentem as amarguras da vida. Todos que enfrentam o monóxido de carbono. Todos que amam. Todos que estudam essa fantástica mecânica celeste aplicada.
Clichê ou não, só tenho algo a dizer: Foda-se. A vida é bela.